domingo, 26 de febrero de 2012

VEERMER





















En tanto esa muller do Rijksmuseum
con esa calma e concentración pintadas
día tras día siga vertendo
leite do cántaro ao cunco,
non merecerá o Mundo 
a fin do mundo.

De Wislawa Szymborska en Versos Escollidos (Positivas, 2011)

sábado, 18 de febrero de 2012

HOLAN












Entonces de nuevo


Entonces de nuevo 

Aunque mis versos a veces no los entendía ni mi amigo
(del mismo modo que hay seres que no pueden matar
aunque quisieran),
aunque completamente abandonado me desesperaba
(del mismo modo que algunas estatuas se aterrorizaron
de los pecados humanos hasta volverse de madera),
aunque no se me ofrecía nada más que el suicidio,
siempre sentí esto: ¡ convertirse en nada,
para destruir hasta esa nada!


Entonces volví de nuevo a amar...

Tradución de Clara Janés e pastel de Milton Glaser.

sábado, 11 de febrero de 2012

OS ANIMAIS CARNÍVOROS





















I

Dava pelo nome muito estrangeiro de Amor, era preciso chamá-lo

sem voz - difundia uma colorida multiplicação de mãos, e aparecia

depois todo nu escutando-se a si mesmo, e fazia de estátua durante um

parque inteiro, de repente voltava-se e acontecera um crime, os jornais

diziam, ele vinha em estado completo de fotografia embriagada, desco-

bria-se sangue, a vítima caminhava com uma pêra na mão, a boca estava

impressa na doçura intransponível da pêra, e depois já se não sabia o

que fazer, ele era belo muito, daquela espécie de beleza repentina e

urgente, inspirava a mais terrível acção do louvor, mas vinha comer às

nossas mãos, e bastava que tivéssemos muito silêncio para isso, e então

os dias cruzavam-se uns pelos outros e no meio habitava uma montanha

intensa, e mais tarde às noites trocavam-se e no meio o que existia agora

era uma plantação de espelhos, o Amor aparecia e desaparecia em todos

eles, e tínhamos de ficar imóveis e sem compreender, porque ele era

uma criança assassina e andava pela terra com as suas camisas brancas

abertas, as suas camisas negras e vermelhas todas desabotoadas.

                                                          
Poema de Herberto Helder e debuxo de Lorenzo Mattotti.

domingo, 5 de febrero de 2012

ZHIVAGO











A enfermidade de Pasternak
é a poesía de Zhivago
a crónica no amor
despois de 100 anos

Un orden novo
celebra a revolta
das flores na illa
despois de 100 anos
             *
"Quando escrevi O Doutor Jivago eu tiña a sensação de ter uma enorme dívida para com os meus contemporâneos. Foi uma tentativa de a saldar. Esse sentimento de dívida ia tomando conta de min à medida que eu avançava na escrita do romance. Despois de anos a escrever apenas poesía lírica e a traduzir, parecía-me ser meu dever fazer unha declaração acerca da nosa época – a respeito daqueles anos, distantes e ainda assim pairando sobre nós. O tempo escoava-se. Quis registrar o passado e honrar, em O Doutor Jivago, os aspectos belos e sensíveis da Rússia deses anos. Esses dias nunca mais voltarão, nen os dos nosos pais e dos nosos antepasados, mas no grande desabrochar do futuro prevejo que os valores deles serão recuperados.”

Extracto da entrevista a Boris Pasternak que Olga Carlisle fíxolle para a mítica revista The Paris Review (Entrevistas da Paris Review, Ediçiões Tinta da China, 2009).